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15 abril, 2014

Eu  sou o momento de rodopio químico que nos faz acreditar em coisas. Eu sou o elegante micro-movimento de ar que o bater das asas de um beija-flor produz para mantê-lo parado no espaço vazio e que não é vazio coisa nenhuma porque está repleto de ar (o beija-flor sabe disso). Eu sou aquele pequeno rodamoinho de sangue que colocará tudo a perder. Eu sou a primeira célula cancerígena que já sabe por que veio ao mundo. Eu sou aquele nanossegundo de segurança antes do desabar definitivo com a decepção do amor quebrado. Eu sou a pontada que a memória dela provoca no fundo da minha consciência. Eu sou um Bóson de Higgs que odeia o apelido de “partícula de deus” por ser uma afronta ao seu ateísmo subatômico. Eu sou isso. Eu sou aquilo. Eu sou o nada também, mas sem muita ênfase neste “ser nada”, porque o nada é mais forte do que o ser e é perigoso ficar muito tempo sendo nada porque você pode nunca mais voltar a ser. Eu sou o ser no exato instante em que ele deixa de ser nada. Eu sou os primeiros três meses de namoro. Eu sou o último segundo de namoro antes daquele derradeiro “eu não te amo mais”. Eu sou a filha da minha mãe. Eu sou aquela preguiça de manhã fria. Eu sou aqueles minutos a mais no banho quente (a destruição do planeta gritando horrores na forma dessas gotas tão maternais). Eu sou o mal que meus amigos desejam para eles mesmos. Eu sou o bem que alguns deles fingiram a vida inteira que me queriam. Eu sou um breve sopro hipnagógico que me faz ter medo, por algumas noites, de dormir. Eu sou a minha solidão cristalizada e já muito bem resolvida comigo mesma. Eu sou tantas coisas que não sei. Eu sou um não sei também, claro. Mas é que os clichês a gente vai deixando para o final. Como se eles já não estivessem por aí desde o começo de tudo. Eu sou a sensação de ter escrito besteiras vazias para chegar à conclusão de quem sou e não chegar nem perto de nenhuma conclusão sobre isso. Eu sou vazia. Se eu soubesse disso antes de escrever, não teria escrito nada. Eu sou tarde demais.

30 novembro, 2013

Clara sempre fora menos humana do que animal - não se adaptou nunca aos padrões e às etiquetas sociais. Lavava os caminhos com suas mágoas, deixando um rastro de lesma por onde pisava. Seu coração, qual pássaro recém-colhido do ninho, pulsava amedrontado, sem ideia de voo. Um dia, porém, a surpresa - sem mais riso de hiena e olhar amedrontado de ratazana - metamorfoseou-se em gente. E, às noites, passou a sonhar, com nostalgia, kafkianamente.


Aprendi que só encontramos autoconfiança com o autoconhecimento. Os outros só conhecem da gente o que mostramos a eles. O resto é interpretação alheia. .

06 julho, 2013

se

Sempre existe aquele momento que você não sabe o que fazer. Não sabe se vai. Se fica. Se bebe. Se chora. Se morre. Se dorme. Se perde. Se ganha. Se canta. Se dança. Se sofre. Se ri e se. se. ser. É sempre essa dúvida, que, talvez, me assole e me deixa completamente maluca. Talvez. O não saber o que quero ser, o não saber no que vai dar, o não saber no que o outro tá pensando, o não saber se vou ser admitida no novo emprego, o não saber se serei ou se seremos errantes ou erros. Eu, dúvida. Perdida nos meus próprios pensamentos e incertezas de mim mesma. Angústia do novo. Medo do passado. Ansiedade para o futuro. Terror do se viver o que não se conhece, do se ter e reter o que você não sabe nem por onde começar, recomeçar, reinventar. Ser. Se. Só.

15 setembro, 2012

Nas ruas, os ipês com suas estonteantes cores anunciavam a chegada de mais uma primavera. O céu azul como o do nordeste proclamava que seria calor. Clara, em sua casa, se aprontava para mais uma jornada de oito horas de trabalho. Ela era jornalista, ou melhor: fotógrafa jornalística - se é que se pode definir assim - Para ela, seria uma dia típico e rotineiro: Sairia para cobrir alguns eventos da cidade; iria em campanhas políticas, e depois, provavelmente veria uma grande tragédia e correria com sua câmera para registrar mais uma efemeridade da vida. Era tanta catástrofe ao seu redor, que aquilo para ela, era normal. Não se assustava com devastosos acidentes de carros, com corpos sangrentos pelas vielas das favelas, com bala perdida e com choro de mãe ao ver o filho morrendo. Tudo aquilo, embora fosse frívolo, para ela, era habitual. Ela aprendeu a ver a vida, e portanto, a morte de uma maneira única, se tornarou uma pessoa fria e, para alguns, era considerada pessimista demais. Mas a grande verdade é que a todo momento de sua vida ela tentava escapar de uma idéia de realidade e sozinha, em casa, ela praticava seu francês escrevendo pequenas coisas: relatava em seu diario suas experiências cotidianas. Em um desses se podia ler em uma péssima grafia: "On aime la vie, mais le néant ne laisse pas d'avoir du bon". Clara estava aparentemente em crise, seja ela qual for, se sabia que era necessário uma terapia, um psicólogo ou uma dose extra de Fluoxetina. Ela dizia que gostava mais quando conseguia imaginar que as pessoas eram boas, mesmo que não fossem. E assim, a primavera se fazia inverno.

05 setembro, 2012

Estou aprendendo a escrever no escuro - É um modo que utilizei para não enlouquecer. Funciona como uma terapia, porque tudo me foge enquanto eu fico procurando com a ponto do lápis as linhas do caderno. Por medo da loucura, renunciei a verdade. Minhas idéias são inventadas.

02 setembro, 2012

Me deram um último pedido antes daquela bala explodir os meus miolos, pedi um café e uma rosquinha de canela.

13 junho, 2012

Algumas pessoas simplesmente não conseguem viver. Sabe?! É, não conseguem e pronto. Eu, como escritor e hipócrita observador, fico pensando e repudiando no meu pensamento todos esses seres fracos. É, porque não me vem outro adjetivo melhor para eles além de fraqueza, tanto de espirito quanto de ideia, sabe? Eu não sei. Talvez vocês possam me explicar melhor. Não sei o que leva algumas pessoas a fazerem algumas coisas, ou melhor: Deixarem de fazer. A sociedade pode me tirar essa dúvida. Não, acho que as condutas morais, tais como a ética e os próprios costumes de um povo, em geral, as regras... Isso! As regras explicam!! Pega lá! - Gritou o rei - O manual da sociedade!
Viver de uma mentira, além de ser irracional deveria doer. Dói?! Talvez seja como um vírus, sabe?! Daqueles silenciosos, a pessoa nunca percebe que tem e ele só se manifestara depois de um tempo. Deve ser assim, né?! Ou não. Afinal, o que é uma verdade?! O que é viver uma verdade?!
Bom, eu não sei, mas sinto que, as vezes, a história que vivo, não é real. E uma voz dentro de mim ecoa me permitindo a refletir: "O que é real, é necessariamente verdadeiro?"  - Se sinto que vivo uma não-realidade, de que maneira, isso pode ser verdade? Há varias maneiras, oras! Uma delas é ser fraco, um dos melhores adjetivos que tenho encontrado pra definir minhas ladainhas cotidianas: Fraco das pernas, fraco da cabeça, fraco das idéias, e principalmente, fraco para seguir em frente.